Uma visita salutar

Quase um ano depois das gravações do documentário Roraimeira - expressão amazônica e após três horas e meia na estrada, o retorno a Maloca do Perdiz, na Reserva Indígena São Marcos foi especial e surpreendente.

A mensagem radiofônica que havíamos passado há duas semanas, informando nossa visita, não chegou. Nem o bilhete que mandamos pelos indígenas que iriam para a assembléia geral do Programa São Marcos e muito menos a mensagem via técnicos da Funai, que não conseguiram chegar na região.

Fui o primeiro a descer do carro na manhã de terça-feira (26/01) e a pequena índia macuxi, de aproximadamente 9 anos, conhecida como 'Momoca' foi a primeira a anunciar: - Olha, é o 'seu' Thiago!!! Eu fiquei impressionado com a capacidade de memorização daquela criança, que tanto nos já havia encantado com seu jeito dócil, durante as gravações.

Aos poucos os demais foram se aproximando e nos reconhecendo... A dona Jucélia abriu um sorriso sincero que me fez pensar: Bom, acho que ainda somos bem vindos! E em seguida falou: - Esses dias eu tava pensando se vocês iriam voltar aqui!...

Olha que esta foi só a primeira reação positiva à nossa chegada. Depois vieram as conversas na Pedra do Perdiz; o ‘ajuri’ (reunião comemorativa) na hora do almoço; a sensação de privilégio no pôr do sol, com o Cristino Wapichana cantando sua música PAZ na língua materna; e as reações animadas durante a exibição do documentário, numa noite iluminada pela lua e pelas milhares de estrelas...

Agora pense como é bom dormir numa pousada à beira mar... pois dormir em rede no Perdiz, embaixo da maloca e sentindo a brisa que anuncia a cruviana (vento forte da madrugada), é uma experiência quase que indizível.

No segundo dia tivemos a oportunidade de chegar na Pedra Pintada e passar horas admirando suas inscrições rupestres e ouvindo o seu Manoel contando as histórias dos antepassados que por ali viveram. Ele nos concedeu a honra de conhecer a Pedra do Pereira, que o Jorge Macêdo tanto falava que tinha visitado, há muitos anos atrás.

O local é excepcional!! Uma pedra gigantesca em forma de ‘concha acústica’ com inscrições rupestres contínuas e exuberantes. É como um palco natural decorado com figuras e símbolos ainda hoje indecifráveis, nesta região do Eldorado.

Sem dúvidas a oportunidade foi ímpar, mas tenho certeza que se nos dispormos a conhecer mais a cultura indígena, despidos de tantos rótulos e preconceitos, os povos tradicionais nos fornecerão referências salutares para minimizar os problemas que assolam nossa 'civilização pós-moderna', especialmente no trato social e na relação com o nosso meio ambiente.

Thiago Chaves Briglia

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