Mostra DOCTV Roraima

Para quem ainda não teve a oportunidade de prestigiar “Roraimeira – Expressão Amazônica”, o Sesc-RR promoverá uma sessão especial DOCTV Roraima, no dia 9 de fevereiro, a partir das 19h, Cine Sesc, localizado no bairro Mecejana.

Na mostra serão apresentados os três documentários, com 52 minutos de duração cada, realizados por meio deste programa do Ministério da Cultura, que beneficia produtores independentes em todo o país e promove a exibição em TVs públicas nacionais.

O primeiro documentário exibido será “Nenê Macaggi – Roraima entre linhas”, produzido em 2005 pela pesquisadora e colega de Movimento Cultural, Elena Fioretti. Em seguida, o documentário “Nas trilhas de Makunaima”, que aborda a relação do mito Makunaima com o Monte Roraima, produzido por nossa equipe, em 2007.

Por último será exibido o documentário “Roraimeira - expressão amazônica”, que tivemos a satisfação de produzir em 2009. Ao final, estaremos lá para uma bate papo sobre as produções audiovisuais. A entrada e franca. Sintam-se convidados!!

Thiago Chaves Briglia

Uma visita salutar

Quase um ano depois das gravações do documentário Roraimeira - expressão amazônica e após três horas e meia na estrada, o retorno a Maloca do Perdiz, na Reserva Indígena São Marcos foi especial e surpreendente.

A mensagem radiofônica que havíamos passado há duas semanas, informando nossa visita, não chegou. Nem o bilhete que mandamos pelos indígenas que iriam para a assembléia geral do Programa São Marcos e muito menos a mensagem via técnicos da Funai, que não conseguiram chegar na região.

Fui o primeiro a descer do carro na manhã de terça-feira (26/01) e a pequena índia macuxi, de aproximadamente 9 anos, conhecida como 'Momoca' foi a primeira a anunciar: - Olha, é o 'seu' Thiago!!! Eu fiquei impressionado com a capacidade de memorização daquela criança, que tanto nos já havia encantado com seu jeito dócil, durante as gravações.

Aos poucos os demais foram se aproximando e nos reconhecendo... A dona Jucélia abriu um sorriso sincero que me fez pensar: Bom, acho que ainda somos bem vindos! E em seguida falou: - Esses dias eu tava pensando se vocês iriam voltar aqui!...

Olha que esta foi só a primeira reação positiva à nossa chegada. Depois vieram as conversas na Pedra do Perdiz; o ‘ajuri’ (reunião comemorativa) na hora do almoço; a sensação de privilégio no pôr do sol, com o Cristino Wapichana cantando sua música PAZ na língua materna; e as reações animadas durante a exibição do documentário, numa noite iluminada pela lua e pelas milhares de estrelas...

Agora pense como é bom dormir numa pousada à beira mar... pois dormir em rede no Perdiz, embaixo da maloca e sentindo a brisa que anuncia a cruviana (vento forte da madrugada), é uma experiência quase que indizível.

No segundo dia tivemos a oportunidade de chegar na Pedra Pintada e passar horas admirando suas inscrições rupestres e ouvindo o seu Manoel contando as histórias dos antepassados que por ali viveram. Ele nos concedeu a honra de conhecer a Pedra do Pereira, que o Jorge Macêdo tanto falava que tinha visitado, há muitos anos atrás.

O local é excepcional!! Uma pedra gigantesca em forma de ‘concha acústica’ com inscrições rupestres contínuas e exuberantes. É como um palco natural decorado com figuras e símbolos ainda hoje indecifráveis, nesta região do Eldorado.

Sem dúvidas a oportunidade foi ímpar, mas tenho certeza que se nos dispormos a conhecer mais a cultura indígena, despidos de tantos rótulos e preconceitos, os povos tradicionais nos fornecerão referências salutares para minimizar os problemas que assolam nossa 'civilização pós-moderna', especialmente no trato social e na relação com o nosso meio ambiente.

Thiago Chaves Briglia

A sétima arte chega à maloca do Perdiz


Matéria publicada no Jornal Folha de Boa Vista, dia 29/01/2010, pela jornalista Vanessa Brandão


Foto: Jorge Macêdo

Equipe é recebida pelo tuxaua da comunidade

Olhos atentos, risos contidos, curiosidade e timidez. Assim foram as diversas reações de indígenas da Maloca do Perdiz ao prestigiaram o documentário ‘Roraimeira – Expressão Amazônica’, exibido na última terça-feira (26), na sede da comunidade que serviu de locação para cenas do média metragem apresentado para todo o país, por meio da TV Brasil.

A equipe de produção do documentário esteve presente na comunidade localizada na terra indígena São Marcos, com todo o aparato tecnológico para promover uma sessão de cinema especial e registrar as reações e opiniões dos telespectadores.

O índio macuxi Manoel Rodrigues, um dos mais antigos da comunidade, revelou a satisfação de ver seu povo na tela. “É uma alegria ver o filme sobre Roraima e ver as pessoas da nossa comunidade. Nós participamos das filmagens há quase um ano e agora pudemos assistir tudo”, disse.

A indígena Jucélia Saldanha disse ter gostado de assistir ao documentário, mas não se acostumou com a ideia de se ver na tela. “O filme é legal, mas não gostei muito de me ver não”, afirmou a esposa do tuxaua Edilson Magalhães, revelando timidez à reação animada da comunidade, ao vê-la preparando a damorida com o cantor Neuber Uchôa.

“Fiquei feliz em retornar com o documentário pronto. Era o mínimo que poderíamos fazer em respeito a este povo tradicional que nos oportunizou registrar suas riquezas naturais e culturais que tanto inspiram o trabalho do Roraimeira e as nossas produções audiovisuais”, destacou o diretor Thiago Chaves Briglia.

A convite da produção do documentário, o indígena Cristino Wapichana participou da visita para mostrar seu trabalho artístico. O músico apresentou duas músicas na língua wapichana, convocou a comunidade à valorização de suas tradições e presenteou a criançada contando histórias escritas por ele, inspiradas nas lendas indígenas.

Cristino doou para a comunidade um exemplar do livro de sua autoria “A Onça e o Fogo”, Editora Amarilys, e foi responsável por entregar um violão como símbolo da relação da equipe do documentário com a comunidade. “Temos a proposta de registrar num futuro próximo a musicalidade existente nas comunidades indígenas de Roraima, e a presença do Cristino é uma referência para estimular a preservação destes saberes artísticos”, reforçou o Briglia, revelando o tema de uma de suas próximas produções.

O diretor de fotografia do documentário, Jorge Macêdo, aproveitou o encontro para entregar mais de 50 fotos impressas de todas as famílias da comunidade do Perdiz. “É um registro histórico que certamente ajudará na preservação da memória da comunidade”, afirmou o fotógrafo. Jorge ainda ministrou uma pequena palestra sobre técnicas de agricultura familiar, utilizando sementes de frutas e hortaliças para plantio comunitário.

A visita à comunidade do Perdiz também contou com a participação da técnica do Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Paulina Onofre, que conversou com a comunidade sobre mecanismos de preservação dos sítios arqueológicos da região.
“Em São Marcos estão alguns dos principais sítios arqueológicos do Estado, como a Pedra do Perdiz, a Pedra Pintada e a Pedra do Pereira, e o IPHAN está disposto a colaborar com as comunidades no trabalho de preservação destes patrimônios”, disse Paulina.

Para visitar a comunidade do Perdiz, a equipe do documentário contou com a parceria da Universidade Virtual de Roraima, Universidade Federal de Roraima, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Estúdio Biosphere Records, Fundação Nacional do Índio, Som Presentes e Panificadora Pão de Ló.